Diário de um Domingueiro Profissional
Domingo.
Ah, o domingo.
Esse dia maravilhoso em que a sociedade nos dá licença para sermos inúteis sem culpa.
Hoje, decidi me entregar completamente ao ócio.
Nada de produtividade, nada de listas de afazeres, nada de banho. Isso mesmo.
Acordei já cansado, o que é um talento que poucos dominam. Levantar da cama? Nem pensar.
Meu corpo era uma fusão perfeita com o colchão, como se eu tivesse sido absorvido pela espuma ao longo da noite.
Meu primeiro pensamento do dia foi: "Que horas são?" e o segundo: "Que diferença faz?"
Fiquei deitado encarando o teto, contemplando a complexidade das teias de aranha que surgiram misteriosamente ali.
Será que as aranhas têm um sindicato? Um sistema de rodízio para evitar fadiga laboral? Essas questões me tomaram um bom tempo até que fui interrompido por algo crucial: a fome.
O Desafio de Comer Sem Levantar
A cozinha parecia tão distante quanto a Lua.
Mas eu sou um ser evoluído, capaz de encontrar soluções criativas.
Com esforço sobre-humano, estiquei o braço até o criado-mudo e capturei um pacote de bolacha que estava ali desde, sei lá, terça-feira? Passada? Do mês passado? Quem se importa.
Comi ali mesmo, esfarelando tudo na cama.
E quer saber? Não senti culpa. Afinal, domingo é o dia internacional do "depois eu limpo".
A Preguiça Filosófica
Fiquei ali, rolando de um lado para o outro, refletindo sobre a vida.
Será que plantas sabem que são plantas? Se os pássaros fossem preguiçosos como eu, existiriam menos espécies? Quantos domingos são desperdiçados sendo produtivos sem necessidade?
Foi nesse momento que percebi que o tempo passava e eu continuava na mesma posição.
Já eram quase 13h e minha única realização do dia foi abrir um pacote de bolacha.
Esse é o tipo de eficiência que não se aprende na escola.
A Tentação do Banho (E a Vitória Sobre Ela)
Lá pelas 15h, um pensamento traiçoeiro surgiu: "E se eu tomasse banho?" Eu sabia que não devia me entregar a essa ideia perigosa.
O banho é um portal para a produtividade.
Se eu entrasse ali, o frescor da água poderia me dar energia para fazer algo útil, e eu não podia correr esse risco.
Optei pela abordagem estratégica: desodorante por cima do que já estava instalado no corpo desde ontem.
É o equivalente moderno ao banho medieval, quando as pessoas simplesmente jogavam perfume por cima do fedor. Civilização é isso.
A Soneca do Guerreiro
Cansado de não fazer nada, resolvi dormir um pouco. Soneca de domingo não é só um descanso, é um direito constitucional.
O problema foi que eu não estava tecnicamente cansado, já que não tinha feito esforço algum.
Então fiquei ali, de olhos fechados, esperando o sono vir, mas minha mente decidiu relembrar todas as decisões ruins que já tomei na vida.
Lembrei de um "boa noite" que não respondi em 2014 e de uma piada que ninguém riu em 2009. A insônia do nada absoluto.
Quando finalmente cochilei, acordei confuso, sem saber se era segunda-feira, se estava no Brasil ou em outra dimensão.
Levantei cambaleando, me perguntando se ainda era dia ou já era madrugada.
Olhei no relógio: 17h45. Ah, o clássico horário de domingo em que a alma já começa a se preparar para o golpe da segunda-feira.
O Desespero do Final de Domingo
A essa altura, o sentimento de culpa começou a bater.
Será que desperdicei o dia? Deveria ter aproveitado melhor? Fui um inútil completo?
Respondi a essas perguntas comendo uma pizza fria da geladeira e aceitando meu destino.
Domingo foi feito para isso. Quem inventou essa história de "domingo produtivo" claramente nunca experimentou o verdadeiro poder do ócio.
E assim, sem banho, sem conquistas, mas com a certeza de que descansei ao máximo, me preparei para encarar a semana.
Com sorte, segunda-feira chegaria devagar.
Se não, pelo menos já estou descansado para reclamar dela.
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